Lira XXII
Por morto, Marília,
Aqui me reputo:
Mil vezes escuto
O som do arrastado,
E duro grilhão.
Mas, ah! que não reme,
Não treme de susto
O meu coração.
A chave lá soa
No porta segura;
Abre-se a escura,
Infame masmorra
Da minha prisão.
Mas, ah! que não treme,
Não treme de susto
O meu coração.
Já o Torres se assenta;
Carrega-me o rosto;
Do crime suposto
Com mil artifícios
Indaga a razão.
Mas, ah! que não treme,
Não treme de susto
O meu coração.
Eu vejo, Marília,
A mil inocentes,
Nas cruzes pendentes
Por falsos delitos,
Que os homens lhes dão.
Mas, ah! que não treme,
Não treme de susto
O meu coração.
Se penso que posso
Perder o gozar-te,
E a glória de dar-te
Abraços honestos,
E beijos na mão.
Marília, já treme,
Já treme de susto
O meu coração.
Repara, Marília,
O quanto é mais forte
Ainda que a morte,
Num peito esforçado,
De amor a paixão.
Marília, já treme,
Já treme de susto
O meu coração.
Pura emoção ler o poema na masmorra.
A garotada adorou e aplaudiu.